O Buda é visto como um avatar do deus Vishnu no hinduísmo Vaishnava, embora o próprio Buda negue que ele seja um deus ou a encarnação de um deus. Os ensinamentos de Buda negam a autoridade dos Vedas e, conseqüentemente, o budismo é geralmente visto como uma nastika (escola heterodoxa) da perspectiva do hinduísmo ortodoxo.
Ele expôs as quatro nobres verdades (Arya Satya) sobre o sofrimento, sua causa, sua destruição e o caminho para a eliminação do sofrimento. Ele era contra os extremos da autoindulgência e da automortificação. Um Caminho do Meio foi defendido consistindo de visões corretas, aspirações corretas, fala correta, conduta correta, modo de vida correto, esforço correto, atenção plena correta e contemplação correta. Ele rejeitou a autoridade dos Vedas, condenou as práticas ritualísticas, especialmente o sacrifício de animais, e negou a existência de deuses.
O Buda é descrito em importantes escrituras hindus, incluindo quase todos os principais Puranas. Considera-se que 'nem todos eles se referem à mesma pessoa: alguns deles se referem a outras pessoas, e algumas ocorrências de “buddha” significam simplesmente “uma pessoa que possui buddhi”; a maioria deles, no entanto, refere-se especificamente ao fundador do budismo. Eles o retratam com dois papéis: pregar visões védicas ateístas para restaurar o Dharma e criticar o sacrifício de animais. Uma lista parcial das principais referências purânicas do Buda é a seguinte:
Harivamsha (1.41)
Vishnu Purana (3.18)
Bhagavata Purana (1.3.24, 2.7.37, 11.4.23) [2]
Garuda Purana (1.1, 2.30.37, 3.15.26)
Agni Purana (16)
Narada Purana (2.72)
Linga Purana (2.71)
Padma Purana (3.252) etc.
Nos textos purânicos, ele é mencionado como um dos dez Avatares de Vishnu, geralmente como o nono.
Outra escritura importante que o menciona como um Avatar é o Brihat Parashara Hora Shastra de Rishi Parashara (2:1-5/7).
Ele é frequentemente descrito como um yogi ou yogacharya e como um sannyasi. Seu pai geralmente é chamado de Suddhodhana, o que é consistente com a tradição budista, enquanto em alguns lugares o pai do Buda é chamado de Anjana ou Jina. Ele é descrito como belo (devasundara-rupa), de pele amarela e vestindo vestes marrom-avermelhadas ou vermelhas.
Apenas algumas declarações mencionam a adoração de Buda, por exemplo, o Varahapurana afirma que aquele que deseja a beleza deve adorá-lo.
Em alguns dos Puranas, ele é descrito como tendo nascido para “enganar os demônios”:
mohanartham danavanam balarupi pathi-sthitah । putram tam kalpayam asa mudha-buddhir jinah svayam ॥ tatah sammohayam asa jinadyan asuramsakan । bhagavan vagbhir ugrabhir ahimsa-vacibhir harih ॥
—Brahmanda Purana, Bhagavatatatparya de Madhva, 1.3.28
Tradução: Para iludir os demônios, ele [o Senhor Buda] ficou no caminho na forma de uma criança. A tola Jina (um demônio), imaginou que ele fosse seu filho. Assim, o senhor Sri Hari [como avatara-buddha] habilmente iludiu Jina e outros demônios com suas fortes palavras de não-violência.
No Bhagavata Purana, diz-se que Buda nasceu para restaurar o poder dos devas:
tatah kalau sampravrtte sammohaya sura-dvisam ।
budho namnanjana-sutah kikatesu bhavisyati ॥
—srimad-bhagavatam, 1.3.24
Tradução: Então, no início de Kali-yuga, com o propósito de confundir os inimigos dos devas, [ele] se tornará o filho de Anjana, de nome Buda, nos Kikatas.
Em muitos Puranas, o Buda é descrito como uma encarnação de Vishnu que encarnou para aproximar os demônios ou a humanidade do dharma védico. O Bhavishya Purana contém o seguinte:
Nessa época, lembrando-se da Era de Kali, o deus Vishnu nasceu como Gautama, o Shakyamuni, e ensinou o dharma budista por dez anos. Então Shuddodana governou por vinte anos, e Shakyasimha por vinte. No primeiro estágio da Era de Kali, o caminho dos Vedas foi destruído e todos os homens se tornaram budistas. Aqueles que buscaram refúgio com Vishnu foram iludidos.
Como um avatara de Vishnu
Nos círculos reais do século VIII, o Buda começou a ser substituído por deuses hindus em pujas. Este também foi o mesmo período em que o Buda foi transformado em um avatar de Vishnu.
Na seção Dasavatara stotra de seu Gita Govinda, o influente poeta Vaishnava Jayadeva (século 13) inclui o Buda entre os dez principais avatares de Vishnu e escreve uma oração a respeito dele como segue:
Ó Keshava! Ó Senhor do universo! Ó Senhor Hari, que assumiu a forma de Buda! Todas as glórias a Ti! Ó Buda de coração compassivo, você condena a matança de pobres animais realizada de acordo com as regras do sacrifício védico.
Este ponto de vista do Buda como o avatar que promoveu principalmente a não-violência (ahimsa) continua sendo uma crença popular entre várias organizações Vaishnava modernas, incluindo a ISKCON.
Além disso, existe a seita Vaishnava de Maharashtra, conhecida como Varkari, que adora o Senhor Vithoba (também conhecido como Vitthal, Panduranga). Embora Vithoba seja considerado principalmente uma forma do pequeno Krishna, há muitos séculos existe uma crença profunda de que Vithoba é uma forma de Buda. Muitos poetas do Maharashtra (incluindo Eknath, Namdev, Tukaram etc.) o mencionaram explicitamente como Buda, embora muitos neo-budistas (ambedkaries) e alguns estudiosos ocidentais tendam a rejeitar essa opinião.
Como uma figura inspiradora
Outros proponentes modernos proeminentes do hinduísmo, como Radhakrishnan, Vivekananda, consideram o Buda como um exemplo da mesma verdade universal que fundamenta as religiões:
Vivekananda: Que aquele que é o Brahman dos hindus, o Ahura Mazda dos zoroastrianos, o Buda dos budistas, o Jeová dos judeus, o Pai Celestial dos cristãos, dê força a você para realizar suas nobres ideias!
Radhakrishnan: Se um hindu canta os Vedas nas margens do Ganges… se o japonês adora a imagem de Buda, se o europeu está convencido da mediação de Cristo, se o árabe lê o Alcorão na mesquita… É a sua apreensão mais profunda de Deus e a mais completa revelação de Deus para eles.
Várias figuras revolucionárias do hinduísmo moderno, incluindo Gandhi, foram inspiradas pela vida e ensinamentos do Buda e muitas de suas tentativas de reforma.
Steven Collins vê tais afirmações hindus em relação ao budismo como parte de um esforço – em si uma reação aos esforços de proselitismo cristão na Índia – para mostrar que “todas as religiões são uma” e que o hinduísmo é valioso de maneira única porque só ele reconhece esse fato.
Interpretações
De acordo com Wendy Doniger, o avatar de Buda que ocorre em diferentes versões em vários Puranas pode representar uma tentativa do brâmane ortodoxo de caluniar os budistas, identificando-os com os demônios. Helmuth von Glasenapp atribuiu esses desenvolvimentos a um desejo hindu de absorver o budismo de maneira pacífica, tanto para ganhar os budistas para o vaishnavismo quanto para explicar o fato de que uma heresia tão significativa poderia existir na Índia.
Os tempos atribuídos a uma figura de “Buda” são contraditórios e alguns o colocam em aproximadamente 500 EC, com uma vida de 64 anos, descrevem-no como tendo matado algumas pessoas, seguindo a religião védica e tendo um pai chamado Jina, o que sugere que esta figura em particular pode ser uma pessoa diferente de Siddharta Gautama.
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